Um dos argumentos mais comuns para o problema do mau no mundo é justamente a existência do livre arbítrio.
No céu, supõe-se que não haja sofrimento algum. Como essa noção pode ser reconciliada com o argumento do livre arbítrio? Os humanos no céu não terão livre arbítrio e, portanto, serão incapazes de causar danos uns aos outros?
Ou é possível criar um mundo sem sofrimento, mesmo ao conceder livre arbítrio aos humanos que vivam nele?
Uma nova Natureza
Existem muitas teorias sobre até que ponto realmente temos o livre arbítrio e como isso é possível em relação a pré ciência de Deus, mas não iremos nos aprofundar nessa discussão.
Quando atingirmos o céu, seremos presenteados com uma nova natureza, purificados de nossa antiga natureza pecaminosa.
Por intermédio destas ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça. – 2 Pedro 1:4
Quando escaparmos dessa corrupção, obteremos o estado sem pecado igual ao de Jesus.
Vocês sabem que ele se manifestou para tirar os nossos pecados, e nele não há pecado. Todo aquele que nele permanece não está no pecado. Todo aquele que está no pecado não o viu nem o conheceu. – 1 João 3:5,6
Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. – 2 Coríntios 3:18
Jesus enquanto homem, ainda que sem pecado, possuía o livre arbítrio.
Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai. – João 10:17,18
Não haverá pecado no céu. Isso não é porque não temos livre-arbítrio, mas sim porque simplesmente não escolheremos pecar. Não será da nossa natureza.
Haverá liberdade no céu
Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. – 2 Coríntios 3:17
Claramente, há liberdade no Senhor. Nós não perdemos nossa liberdade simplesmente porque estamos no céu.
Uma nota final é um simples chamado à lógica: como pode o paraíso ser o paraíso se perdermos nossa liberdade e nosso livre arbítrio?
Uma maneira de pensar sobre isso é um mundo onde o pecado não é uma opção. Parcialmente porque não é da nossa natureza e parcialmente porque não está disponível para nós. Imagine, por exemplo, a vida no Jardim do Éden, mas sem a cobra.
Não há razão para pecar. Não há necessidade de pecar. Não há desejo de pecar. No entanto, há livre arbítrio completo.
A natureza de Deus
Se considerarmos a própria natureza de Deus, o fato de que a glória de Deus é Seu amor abnegado, então a resposta fica clara.
Sim, Deus deseja de Suas criações uma lealdade de amor, serviço que surge apenas de uma apreciação de Seu caráter. Somente uma criação com livre arbítrio é capaz de servir a Deus com amor.
Tipos de Livre Arbítrio
Em A Cidade de Deus, Livro XXII, Capítulo 30, Agostinho fala de alguns tipos de liberdade, resumidamente seria:
Liberdade de escolha:
A liberdade de escolha é uma liberdade real, porque nos possibilita escolher livremente seguir a vontade de Deus, que envolve o engajamento na bondade e na verdade de Deus.
Liberdade para se envolver no mal e na mentira:
A liberdade de se envolver no mal e na falsidade nos parece como a liberdade quando estamos engajados nisso, mas na verdade é escravidão ao pecado e, portanto, ao Diabo e ao inferno. Essa não é uma liberdade real, pois, devido a natureza corrompida estará sempre inclinado a fazer o mal.
Liberdade para se envolver em bondade e verdade:
Liberdade para se envolver em bondade e verdade é uma liberdade real e uma liberdade maior do que a liberdade de escolha, porque esta é a liberdade dada a nós por Deus quando escolhemos Deus e a justiça sobre o Diabo e o pecado.
Se tivermos escolhido o bem sobre o mal, alcançaremos uma forma maior de livre arbítrio, que é o dom e a capacidade dada por Deus de viver livremente de acordo com o que é bom e verdadeiro de Deus.