E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má. Mateus 12:43-45
Entendimento Popular
Existem diversos artigos e até mesmo doutrinas baseadas nesses versículos.
Um entendimento comum e muito popular é o de que quando um demônio é expulso de uma pessoa, se ela não se converter e se entregar verdadeiramente a Cristo, então esse espírito maligno retorna com vários outros e essa pessoa fica em um estado deplorável.
Embora ao ler a passagem podemos ter a impressão de que é esse o entendimento, ainda que de fato há alguma verdade nisso, precisamos entender o que Cristo estava querendo dizer aquelas pessoas.
Uma geração incrédula
Considerando o contexto em que Jesus estava envolvido com os fariseus, os judeus pediram um sinal do céu que deveria provar decisivamente que ele era o Messias e satisfazer a sua incredulidade.
Cristo com essa parábola responde que, embora ele pudesse dar a eles tal sinal, uma prova conclusiva e satisfatória, e apesar de por um tempo eles aparentemente converterem seus corações, contudo tal era a obstinação de sua incredulidade e iniquidade, que eles logo retornariam aos seus hábitos anteriores o que os tornariam piores do que antes.
A ideia de que a parábola se refere a uma classe específica e não apenas um homem é o final quando ele diz: “Assim acontecerá também a esta geração má.”
Uma religião sem Cristo
Vários comentaristas parecem concluir que se trata de uma parábola para expor a verdadeira natureza e hipocrisia da religião sem Cristo.
A religião finge uma moralidade mais elevada do que o homem comum e tenta mostrá-lo através de ostentações externas de práticas ritualísticas e evitação de pecados comuns externos.
Jesus diz que isto é como um quarto que foi varrido e limpo. No entanto, isto, quando sem fé no Messias não é preenchido por Deus, portanto, se torna uma habitação melhor para Satanás onde ele pode viver lá sem ser notado.
Um inimigo feroz
Alguns comentaristas explicam que os lugares áridas parecem ser os gentios, outras como se referindo às lendas judaicas sobre os demônios, mas isso não é relevante para a ideia principal.
Outros vêem isso como histórico, depois do exílio babilônico, Israel finalmente se livrou da idolatria, “o que seria expulsar o demônio e limpar o lugar”, mas essa “limpeza” levou os judeus para um orgulho hipócrita e legalista tornando-os insensíveis e colocando um fardo pesado sobre o povo.
Calvino diz em seus comentários:
Anda por lugares áridos: Esta é uma expressão metafórica, e denota que morar fora dos homens é para Satanás um desertor miserável, e se assemelha a um deserto estéril. A frase “buscando repouso” mostra que o inimigo só se satisfaz enquanto ele reside nos homens, pois fora ele está descontente e atormentado, e não deixa de trabalhar por um meio ou por outro, até recuperar o que perdeu.
Sete espíritos
O número sete é conhecido nas escrituras por ser o número da perfeição, tanto para o bem como para o mau.
Nesse versículo não se trata necessariamente de sete espíritos literais, embora possa acontecer, parece se trata de um mau aperfeiçoado.
Elicott comenta:
O número sete, como no caso de Maria Madalena (Marcos 16:9;Lucas 8:2), representa uma maior intensidade de posse, mostrando-se em paroxismos mais violentos de frenesi e com menos esperança de restauração.
Conclusão
Portanto, a ação que seus discípulos deveriam tomar é assegurar que eles não apenas façam uma superfície limpa através da religião vã, mas pela fé em Cristo.
Ele é o único que pode lançar o reino de Satanás de um coração. Caso contrário, toda religião e boas obras serão o ninho perfeito para todo mal.