O Papa Francisco pronunciou esta semana que a pena de morte é “inadmissível”, mudando oficialmente o ensinamento da Igreja Católica Romana sobre a pena de morte.
Ele já havia pedido a abolição da pena de morte em todo o mundo em 2016. O Catecismo atualizado da Igreja agora considera a pena capital como “um ataque à inviolabilidade e dignidade da pessoa”.
Segundo o papa, o mandato para se opor à pena de morte vem dos dez mandamentos; “O mandamento: Não matarás, tem valor absoluto e se aplica tanto aos inocentes quanto aos culpados.”
Alguns podem se perguntar, então, se o cristianismo e geral deveria, como o Papa diz, se opor à pena capital em todas os circunstâncias.
O Valor da Vida
Existe um ponto positivo na fala do papa. Ele está absolutamente certo sobre o valor da vida humana.
Fico feliz que ele tenha se manifestado contra uma cultura da morte que vê a vida como, em suas palavras, “descartável”.
Ele também está certo quanto à responsabilidade da igreja com os prisioneiros, lembrar aqueles que estão presos, ministrar a eles e trabalhar contra políticas que violam a dignidade humana.
Dito isto, não posso concordar com o Papa Francisco que a pena de morte seja, em todas as circunstâncias, uma violação do mandamento de não matar.
A Tradição Pacifista
Existe, é claro, uma corrente de pensamento cristão que se opõe consistentemente à pena de morte.
A visão pacifista vê todo ato de matar como moralmente errado, sob todas as circunstâncias.
Essa visão se opõe não apenas à pena de morte, mas também à guerra ou à ação militar. Essa tradição proibiria os cristãos de servir nas forças armadas ou de autorizar ações letais pelas forças policiais.
Apenas para ilustrar essa posição, um policial jamais poderia matar uma pessoa, mesmo agindo em legítima defesa e um militar não precisaria carregar uma arma em uma guerra, pois, não poderia utilizá-la.
Pena de Morte na Lei
Pelo menos desde Agostinho, a Igreja Católica Romana defendeu o princípio da “guerra justa” em pelo menos algumas circunstâncias, assim como a maioria do protestantismo.
Se alguém acredita que o estado pode ordenar que os militares matem combatentes oponentes na guerra, não se acredita, por definição, que todo assassinato comandado pelo estado é uma violação do mandamento de não matar.
De fato, a Lei Mosaica na qual os Dez Mandamentos são revelados prevê a pena capital em diversas ocasiões. O ponto aqui é que a própria Lei Mosaica traça uma distinção entre assassinato e a execução legal pelo estado.
Antes da lei, na aliança com Noé, Deus proibiu o assassinato e, simultaneamente, fez provisão para a pena de morte em alguns casos.
Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem. Gênesis 9:6
A humanidade, criada à imagem de Deus, é de tal valor que matar é suportar as mais terríveis conseqüências imagináveis, ou seja, a perda da própria vida.
Pena de Morte no Novo Testamento
No Novo Testamento, Jesus e seus apóstolos proíbem a igreja de exercer vingança contra qualquer um (Mateus 5:38-44) e até mesmo de julgar os que estão do lado de fora (1 Coríntios 5:12).
E, no entanto, em Romanos 13, Paulo fala do estado romano “portando a espada” contra os “malfeitores” pela própria autoridade de Deus (Rom. 13: 1-5).
Alguns argumentaram que esse “porte da espada” é poder policial, não pena de morte.
Mas o poder policial, se armado com armas letais, sempre carrega pelo menos a possibilidade da morte do malfeitor.
Se isso é sempre e em todo lugar assassinato, então merece a sanção completa do julgamento moral de Deus.
Paulo não faz tal coisa, mesmo que a Bíblia em outro lugar claramente chama de injusta e imoral a execução do inocente pelo estado (Ap 20:4).
O ladrão na cruz, em seu arrependimento, reconhece que suas ações são de fato merecedoras do castigo que ele estava recebendo, que era a morte, enquanto a execução de Jesus não era merecida e, portanto, injusta (Lucas 23:41).
Problemas com a Pena de Morte
Isso não resolve a questão de saber se devemos ter de fato a pena de morte.
Existem, em muitos lugares, sérios problemas com a aplicação da pena. Evidências de DNA descobriram lugares onde pessoas inocentes foram executadas; tal é imoral e um ato de injustiça pública (Provérbios 17:15).
Existem, em muitos lugares, disparidades raciais e econômicas que influenciam na decisão da pena de morte, tal é uma abominação para um Deus que é imparcial e exige imparcialidade na justiça.
Estes são problemas não apenas com a pena de morte, mas com quase todos os aspectos da justiça criminal, incluindo a sentença de prisão.
Cristianismo e a Pena de Morte
Os cristãos podem debater se um Estado deve declarar uma moratória à pena de morte enquanto reforma as práticas injustas de condenação.
Os cristãos podem debater se a pena de morte é eficaz como dissuasor ou se a pena de morte é significativa em um mundo em que os sistemas jurídicos atrasam por anos a aplicação da pena.
Estes são debates prudenciais sobre a melhor forma de ordenar nossos sistemas políticos, e não debates sobre se todo ato de assassinato estatal é assassinato e, portanto, imoral e injusto.
O papa está aqui fazendo mais do que apenas um argumento prudencial.
Ele está aplicando o mandamento contra o assassinato a toda aplicação da pena capital. Nisso, acredito que ele esteja errado.
Podemos discordar, com bons argumentos de ambos os lados, sobre a pena de morte.
Mas, ao fazermos isso, não devemos perder a distinção que a Bíblia faz entre os inocentes e os culpados.
O evangelho nos mostra perdão pelos culpados através da expiação que absorve o pecado por meio de Cristo, não através da recusa do estado em realizar a justiça temporal.
Autor: Russell Moore
Fonte: CrossWalk