Por que Jesus não queria ser reconhecido como o Messias?

Não é incomum encontrarmos nos evangelhos, o relato de Jesus proibindo alguém que ele curou para não dizer nada sobre o fato, vejamos:

Após curar um leproso:

E, advertindo-o severamente, logo o despediu. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. Marcos 1:43,44

Depois de curar um homem surdo e ressuscitar uma menina:

E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas, quanto mais lhos proibia, tanto mais o divulgavam. Marcos 7:36

Após curar dois cegos:

E os olhos se lhes abriram. E Jesus ameaçou-os, dizendo: Olhai que ninguém o saiba. Mateus 9:30

Da mesma forma, em vários lugares, Jesus diz especialmente aos seus discípulos, não compartilhar que ele é o Messias. Por exemplo:

Então mandou aos seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era Jesus o Cristo. Mateus 16:20

E, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos. Marcos 9:9

Por fim, Jesus também disse aos demônios para não revelar sua identidade:

Dizendo: Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.
E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te, e sai dele. Marcos 1:24,25

E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam. Marcos 1:34

O Conceito de Messias no Contexto Histórico

A maioria dos cristãos hoje sabe que o “messias” é literalmente traduzido como “ungido”, mas muitos deles não entendem o que isso realmente significava para os judeus.

O título “ungido” é uma referência ao ato cerimonial de ungir a cabeça do rei de Israel com óleo sagrado. Assim, se alguém afirma ser o messias, alguém está reivindicando ser o legítimo rei de Israel, ou em termos mais simples, o rei dos judeus.

O problema com isso é que os judeus da região, especialmente na Judéia e na Galiléia, eram súditos do imperador romano, e somente ele, e o senado romano, poderiam coroar alguém como “rei dos judeus”.

Qualquer outra pessoa que reivindicava este título estava se rebelando contra o Império Romano, e os romanos não gostavam quando as pessoas se rebelavam.

Portanto, alegar que você era o messias era um crime contra o Estado e uma ofensa capital – em outras palavras, qualquer um que alegasse ser o messias, ou mesmo permitisse que outros o chamassem de messias, estava sujeito à pena de morte.

Os romanos executaram Jesus sob a acusação de ser “rei dos judeus”, segundo Marcos 15:26. Pôncio Pilatos, no entanto, não era o único oficial romano na Palestina a lidar com um líder judeu popular que era visto como rei dos judeus. Tanto antes como depois de Jesus, houveram vários líderes judeus populares, quase todos do campesinato, que, nas palavras de Josefo, “reivindicaram o reino”, o diadema, “ou foram” proclamados rei “por seus seguidores. Assim, parece que uma das formas concretas que a inquietação social tomou no final do período do segundo templo foi a de um grupo de seguidores reunidos em torno de um líder que eles haviam aclamado como rei.
– Richard Horsely, bandidos, profetas e messias

As Ações do Messias

Outros estudiosos, como Albert Schweitzer e James Dunn, vêem o segredo como uma tentativa de evitar preconceitos judaicos sobre o que o Messias seria.

Uma das expectativas mais comuns era de que o Messias seria um líder político ou militar. Jesus não queria ser esse tipo de Messias e, por isso, não queria que as pessoas o seguissem com essa expectativa, apenas para serem desapontados mais tarde.

Dunn afirma ainda que Jesus estava evitando a tentação de tomar esse poder e negando a visão falsa do messiado.

O comentário exegético de Zondervan também suporta essa visão.

Não era o Tempo Oportuno

Jesus estava tentando esconder o fato de que ele era o Messias. Mas não é porque ele tinha medo da autoridade local. Em vez disso, ele estava tentando atrasar os eventos de sua morte. Ele sabia que o momento tinha que ser perfeito e os eventos registrados eram “cedo demais”.

Vejamos:

Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto. João 7:6

Por esse motivo, quando Jesus está perto de sua morte Ele começa a revelar que de fato é o Messias:

Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhe Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu. Mateus 26:63,64

E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. João 12:23

Conclusão

Por que, exatamente, Jesus pediu às pessoas que ficassem quietas (sabendo muito bem que elas não fariam) é difícil dizer.

Adiar a sua morte, ensinar aos discípulos ou redefinir o conceito de Messias tudo faz sentido, mas nenhum deles fornece uma explicação completamente satisfatória.

Talvez a melhor explicação seja uma combinação dos três.