Por que os judeus não entenderam “Eli, Eli, lama sabactani”?

E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias… Mateus 27:46,47

Existe uma divergência sobre o idioma original em que Jesus recitou a frase, uns comentam que foi em aramaico, outros acreditam que era hebraico.

Independente do idioma, grande parte dos judeus estavam familiarizados tanto com o aramaico como o hebraico e alguns conheciam também o grego.

Por que então os judeus disseram que Cristo chamava Elias se ele claramente se referia a Deus?

Não há um consenso entre os comentaristas, mas sim algumas hipóteses:

Romanos

Embora a maioria do povo que estava presente na crucificação, pode ser que o versículo ao dizer “alguns dos que ali estavam” se referia aos romanos.

Alguns versículos mostram claramente que os soldados estavam presentes no momento da crucificação:

E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes. E, assentados, o guardavam ali. – Mateus 27:35-36

Embora os soldados pudessem ter alguma compreensão básica do aramaico, não é provável que tivessem conhecimento de Elias, e muito menos pensassem nele automaticamente quando ouvissem alguém gritando em angústia.

Judeus Helenistas

O versículo poderia se referir a judeus helenizados. Estes são os judeus que viveram fora da Palestina em outras partes do Império Romano.

Eles geralmente não falavam hebraico ou aramaico. Em vez disso, eles falavam grego.

A maioria ainda visitava a Palestina para as festas de peregrinação (Páscoa, Pentecostes e o Festival dos Tabernáculos), conforme exigido pela Lei de Moisés (Torá).

Adam Clarke faz o seguinte comentário:

“Provavelmente estes eram judeus helenistas, que não entendiam completamente o significado das palavras de nosso Senhor. Elias era esperado diariamente para aparecer como o precursor do Messias, cuja chegada, sob o caráter de um poderoso príncipe, geralmente deveria estar próxima de todo o leste.”

Provocação

Para Albert Barnes, se tratou de uma provocação proposital e dissimulada:

“Isto foi feito propositalmente para zombar dele e de suas pretensões de ser o Messias. As palavras Eli, Eli, eles poderiam facilmente fingir que entenderam significar Elias, ou então perverter o seu significado.”

Apenas entenderam erroneamente

Por fim, alguns comentaristas acreditam que se trata de apenas um mal-entendido. Que de fato esses ouvintes entenderam a palavra Elyah (Elias), provavelmente pela respiração exausta e pesada que Jesus deveria ter naquele momento.

O episódio continua da seguinte forma:

E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Este chama por Elias, E logo um deles, correndo, tomou uma esponja, e embebeu-a em vinagre, e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber. Os outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo. Mateus 27:47-49

Parece que o homem que ofereceu a esponja provavelmente ouviu Jesus corretamente e entendeu que Ele estava sofrendo e tentou ajudar.

A declaração do resto para “deixa” poderia ser lida como mais uma zombaria, mas o mais provável é que se trata de um mal-entendido inicial, seguido pela dúvida de que Elias realmente viria sem descartar totalmente a possibilidade.

Como o Comentário do Púlpito aponta, o fato de que a teoria do insulto depende de uma audiência judaica distorcendo propositalmente o nome de Deus também cria uma dificuldade significativa:

“O tempo da selvageria e do abuso já passou; a escuridão sobrenatural teve um efeito calmante e aterrorizante; e não há espírito de escárnio deixado nos transeuntes admirados.

Além disso, não é provável que os judeus, que tinham um respeito externo pelas coisas sagradas, tivessem presumido fazer uma brincadeira com o sagrado nome de Deus.”