Talvez seja a perda de um emprego ou uma mudança trágica de eventos, talvez uma oportunidade tão esperada passe por você.
Seja qual for o motivo, nossas vidas muitas vezes esbarram em obstáculos inesperados que nos deixam tristes ou frustrados.
Não estamos imunes a essas ocorrências. Nestes tempos, você deve ter ouvido, até mesmo se expressado, o conhecido adágio: “Quando Deus fecha uma porta, ele abre uma janela!”
A frase parece ser fiel o suficiente, dando voz à soberania de Deus sobre todas as coisas.
Embora sugerindo que Deus teve uma mão nas dificuldades que estamos enfrentando, Deus o faz apenas para fornecer algo melhor – embora o melhor permaneça misterioso e indefinido.
Onde surgiu?
Como acontece com todos os clichês da vida cristã, há duas perguntas importantes que devemos nos fazer: A frase é bíblica? e A frase é útil?
Rastrear a história dos clichês pode ser divertido, mas difícil. As versões da frase existem em diferentes lugares e épocas.
Esse clichê é mais popularmente atribuído ao musical The Sound of Music.
Alexander Bell e Hellen Keller foram citados como dizendo algo semelhante a esta frase.
Essa dificuldade em rastrear a história desse clichê, no entanto, destaca uma verdade fundamental. A frase não ocorre nas Escrituras. Na verdade, quando pensamos sobre essa frase, dificilmente há algo bíblico sobre ela.
Existem três falhas que devemos reconhecer neste clichê:
Falha 1: Uma representação defeituosa da vida
O principal problema com esse clichê é que ele nos leva a uma visão falha da vida cristã.
Porque a frase é empregada no ponto de dificuldade, ela naturalmente assume que o caminho de Deus é o caminho livre de luta ou adversidades.
A janela da vontade de Deus é sempre aquela que nos afasta daquilo que é incômodo.
As coisas boas e agradáveis da vida nunca são descritas para nós como “Deus fechando uma porta”. Por quê? Porque gostamos dessas coisas e presumimos que Deus também gosta.
O clichê presume que a vontade de Deus para nossas vidas é sempre aquela que é fácil e sem problemas.
No entanto, não vemos isso nas Escrituras.
Na verdade, você já percebeu que o caminho da justiça, para o homônimo de Deus, atravessa o vale das sombras mais escuras? (Salmo 23:3-4).
Embora possamos começar em caminhos verdes e águas tranquilas, à medida que progredimos em nossa vida cristã, nos deparamos com vales escuros e a presença de inimigos.
Mais importante, quando olhamos para a vida de Jesus, vemos que o caminho de Cristo é o caminho da cruz. O chamado de Cristo para segui-lo é um chamado para segui-lo no caminho da crucificação.
O clichê pressupõe que qualquer porta fechada ou aberta é benéfica para a vida de alguém.
No entanto, Jesus fala definitivamente contra essa mesma noção. Jesus diz:
“Entre pela porta estreita. Porque larga é a porta e larga é a estrada que conduz à destruição, e muitos entram por ela. Mas pequena é a porta e estreita a estrada que conduz à vida, e poucos a encontram” (Mateus 7:13-14).
Não devemos presumir que Deus se agrada das adversidades do povo de Deus. Claro que não! Ainda assim, a vontade de Deus para nossas vidas está sempre além da mera satisfação dos prazeres terrestres.
Falha 2: uma visão defeituosa de si mesmo
Esse clichê não apenas representa um problema para nossa visão da vida cristã, mas também nos leva a uma visão problemática de nós mesmos.
Ao apelar para as ações de Deus, o clichê pressupõe que nunca podemos saber a vontade de Deus em nossas vidas.
Pressupõe que não vivemos em um relacionamento interativo com Deus.
Imagine o seguinte, se Deus é quem fecha e abre as portas, não precisamos ter essa intimidade para conhecer a Sua vontade.
Basta vivermos nossas vidas esperando que essas portas se fechem ou se abram, pois esse “destino” seria a vontade de Deus.
Sabemos que não é assim que funciona, Deus nos chama para um relacionamento e cabe a nós muitas vezes abrir a porta.
Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo. Apocalipse 3:20
Falha 3: Uma visão defeituosa de Deus
Em última análise, a principal falha por trás do clichê é uma negação fundamental da soberania de Deus.
Embora a frase soe como se desse total autoridade ao Senhor, ela arranca essas coisas das mãos de Deus e as coloca firmemente sob nosso próprio julgamento.
O clichê torna a porta fechada e a janela aberta dependentes de nossa própria avaliação. Se não gostamos do caminho à frente ou achamos que nosso caminho é muito trabalhoso, concluímos que Deus deve estar fechando a porta no caminho à frente.
Por outro lado, quando uma oportunidade cai em nosso colo, não precisamos apresentar o assunto ao Senhor em humilde oração. Em vez disso, simplesmente nos referimos à oportunidade como “a janela aberta de Deus” e avançamos.
Portanto, nossa vida de fé não é vivida seguindo a vontade do Senhor; nós traçamos nosso caminho. Há pouca ou nenhuma fidelidade aqui.
A linguagem de “Deus” ou “vontade de Deus” simplesmente se torna a retórica que usamos para justificar nosso próprio autodomínio.
As Escrituras estão repletas de exemplos de pessoas que vivem dessa maneira. Cada caso é visto como uma distorção da verdadeira fidelidade e obediência.
O rei Davi, por exemplo, procurou construir o templo do Senhor, sentindo que era uma realização adequada para seu reinado (2 Samuel 7).
Nem ele nem o profeta Natanael indagou sobre a vontade do Senhor, acreditando que a existência da oportunidade em si era um testamento da aprovação do Senhor sobre o assunto.
Infelizmente, o ato de construir o templo não fazia parte da vontade de Deus para Davi. Davi é repreendido por orgulhosamente assumir que é o único a decidir os parâmetros da vontade de Deus.
Da mesma forma, seremos repreendidos se fizermos o mesmo.
O que a Bíblia realmente diz? Dadas essas três falhas, é fácil ver como a frase “quando Deus fecha uma porta, Ele abre uma janela” não coincide com a verdade bíblica.
Por mais agradável que a frase possa parecer, ela oferece pouca esperança e nenhuma verdade bíblica para aqueles que se encontram em dificuldades.
Isso, então, levanta a questão: o que a Bíblia realmente diz?
A verdade que os cristãos compreendem, principalmente em tempos de dificuldade ou adversidade, é a presença íntima de Deus. Nunca somos abandonados em nossas vidas.
As palavras de despedida de Jesus no Evangelho de Mateus testificam essa promessa. Jesus proclama aos discípulos em todos os lugares
“Eu estou com vocês até o fim dos tempos” (Mateus 28:20).
Obviamente que Deus pode todas as coisas e em determinadas ocasiões pode sim fechar ou abrir uma porta, mas isso não significa que nossa vida deve ser conduzida dessa forma.
Cabe a nós buscarmos intimidade com o Senhor, descobrir nEle sua vontade para nós e aplicarmos nas nossas vidas.
Maravilhoso texto, cheio de verdade bíblica e repreensão amorosa para o que realmente deve ser o controle verdadeiro de Deus sobre nossas vidas.