Como a gratidão motiva?

Eu já me opus à “Ética da Gratidão” que diz: “Deus trabalhou por mim, agora vou retribuir o favor e trabalhar para ele”; ou: “Deus me deu mais do que eu poderia pagar, mas vou dedicar minha vida a tentar”. Mas uma questão foi levantada: se pode haver outra maneira pela qual a gratidão possa motivar a obediência que não envolva uma mentalidade de devedor. Então, passei cerca de seis horas. Aqui é onde estou.

Definição 

A gratidão é uma espécie de alegria que surge em nosso coração em resposta à boa vontade de alguém que nos faz (ou tenta fazer) um favor. Não respondemos com gratidão a uma pessoa se ela acidentalmente nos faz um favor. Nem respondemos com gratidão se nos fazem um favor com segundas intenções mercenárias. Por outro lado, respondemos com gratidão a uma pessoa que tenta nos fazer um favor, mas é impedida por circunstâncias além de seu controle – digamos, ele sacrifica sua vida para nos trazer remédios na selva, mas acaba não curando. Ainda sentimos gratidão por ele. Portanto, a gratidão não é meramente a resposta da alegria a um benefício recebido. Tem especial referência à boa vontade de outra pessoa. Uma pessoa cuja alegria se concentra apenas em um presente recebido sem nenhum sentimento de alegria na boa vontade do doador, chamamos de ingrato. Portanto, a gratidão é uma espécie de alegria que surge em resposta à boa vontade de alguém que nos faz (ou tenta fazer) um favor.

Essa alegria, como todas as alegrias, tem em si um impulso para expressar ou exibir o valor de sua causa. Isso é crucial para entender como a gratidão motiva o comportamento. É da natureza da alegria demonstrar ou expressar o valor de sua causa. Quando algo nos dá alegria, sentimos um impulso de mostrar o valor disso por nossas palavras ou ações.

A intensidade dessa alegria e seu impulso expressivo são determinados por três fatores variados: 1) a importância para nós do presente oferecido (Agradecemos mais um casaco de inverno do que uma casquinha de sorvete); 2) o sacrifício que custou a alguém para dar o presente (Agradecemos mais se uma pessoa arriscar sua vida do que se seu presente não for inconveniente); 3) nosso próprio sentimento de indignidade para receber o presente (somos mais gratos por presentes gratuitos do que por salários).

A questão de como a gratidão pode motivar adequadamente o bom comportamento é a questão: como devemos expressar ou demonstrar o valor da boa vontade de Deus para conosco? A gratidão é a alegria que surge em resposta à boa vontade de Deus para conosco em todos os seus dons. Essa alegria tem um impulso para expressar o valor dessa boa vontade. 

Como deve fazê-lo?

Resposta : Deve expressar o valor da boa vontade de Deus de uma forma que honre a natureza e o objetivo dessa vontade e não a contradiga. (Por exemplo: eu não deveria tentar mostrar minha gratidão a alguém que acabou de pagar minha passagem por um centro de tratamento de álcool dando-lhe uma festa de cerveja.)

Tomemos a boa vontade de Deus expressa ao enviar seu Filho para morrer, por exemplo. A natureza desse ato de amor é que foi incondicional, imerecido, um presente de pura graça. O objetivo desse ato era liberar um poder de perdão e renovação que transformaria as pessoas em refletores da glória de Deus. Assim, a forma como a gratidão por esse ato da boa vontade de Deus para conosco deve se expressar é dizendo e fazendo o que honra a natureza dele como livre e o objetivo dele como a glória de Deus.

Certas atitudes são assim descartadas: qualquer tentativa de retribuir a Deus contradiz a natureza do ato como livre e gracioso. Qualquer tentativa de se tornar benfeitor de Deus é descartada como desonrosa à natureza e objetivo do ato divino. Esse foi o meu ponto no último domingo. Mas existem algumas maneiras apropriadas para o impulso da alegria da gratidão encontrar expressão: 1) a admissão de que não merecemos Cristo honra a graciosa gratuidade do dom. 2) Palavras de amor, louvor e agradecimento brotarão como frutos no galho da gratidão. 3) A confiança no perdão e no poder renovador desencadeado na cruz honra seu objetivo. 4) Atos de amor abnegado também mostram quão livres somos feitos pela suficiência do dom do amor na cruz.

É assim que vejo a gratidão motivando a obediência a Cristo. Não nos leva a retribuir ou a atender às suas necessidades. Como espécie de alegria, tem em si o impulso de mostrar o valor da boa vontade de Deus. O que mostra o valor da boa vontade de Deus em sua verdadeira natureza e objetivo são palavras de louvor, um coração de confiança e uma vida de amor

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